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contratransferências na clínica Winnicottiana.

Os fenômenos transferenciais, foram uma das mais importantes descobertas de Freud e até hoje constituem um dos pontos centrais em qualquer forma de psicoterapia. A interpretação e o manejo dos fenômenos transferências na clínica, são uma ferramenta decisiva, por meio da qual se pode promover a produção de mudanças psíquicas permanentes durante o curso da análise.

No entanto, parece haver pouca concordância entre as diversas linhas de pensamento na psicanálise, sobre como identificar, interpretar e manejar a transferência. Existe uma relação sempre presente entre fenômenos transferenciais e fenômenos contratransferenciais, sendo muitas vezes o ponto de partida para a interpretação e o manejo, o que o analista percebe sem si. Por outro lado, alguns aspectos neuróticos do analista podem, por meio da contratransferência, estragar a atitude profissional e perturbar o curso do processo analítico do paciente. Freud (1912), em seu texto Sobre a Dinâmica da Transferência nos lembra que “a força mais poderosa de sucesso transforma-se no meio mais forte de resistência”. Portanto, é fundamental para o sucesso do processo analítico, que os fenômenos transferenciais sejam adequadamente identificados e manejados pelo analista.

O setting analítico, deve propiciar um ambiente adequado, para que o paciente possa produzir vivências e reencenações de fantasias infantis e experiências passadas, agora em um novo cenário onde o analista desempenha um papel especial para o paciente. Tanto Freud, em seus textos de recomendações à clínica psicanalítica, quanto Winnicott (1983), concordam que o analista deva suportar estar no lugar daquele que aceita as manifestações de amor e ódio, de confusão, de inconsistências, de agressividade, e as suporta com neutralidade. Aqui, importa muito o manejo da contratransferência, o que o analista percebe em si e a própria ansiedade de por vezes não saber o que virá, e segundo BOLLAS (1992), manter-se em “certa humildade e responsabilidade”.

Na teoria de Winnicott, os cuidados maternos e o ambiente, são considerados como um elemento fundamental para o desenvolvimento da psique humana, na medida em que este ambiente e a figura materna, propiciem uma noção de continuidade no espaço-tempo, que facilitem o processo de diferenciação entre o EU e o NÃO EU e as condições de suportar a ansiedade que tal processo produz durante o amadurecimento do bebê. 2 Para Winnicott (2006), a mãe suficientemente boa, é o paradigma do analista na clínica, sendo assim, o analista deve adaptar-se suficientemente bem à identificação primária de seu paciente, oferecendo agora a possibilidade de reedição da relação com a figura materna e de suas idealizações e fantasias disfuncionais.


O manejo na teoria winnicottiana, pode ser compreendido como um conjunto de atitudes, incluindo o silêncio, que propiciem ao paciente os cuidados que lhe faltaram nas fases iniciais de seu desenvolvimento e que lhe provocaram a interrupção de seu processo de crescimento pessoal. O analista deve recriar um ambiente confiável, para o qual ele possa regredir em busca daquilo que lhe falta e integrar isso à sua personalidade. Comparando os conceitos de regressão entre sua teoria e a teoria Freudiana Winnicott (1990) afirma que para Freud a regressão seria apenas a um determinado ponto de fixação, sem levar em conta os cuidados com a criança, mas que há uma tendência de regressão ao restabelecimento da dependência. Desta forma, podemos concluir que o manejo da transferência em Winnicott, se constitui pela possibilidade do analista se adaptar e recriar o ambiente favorável ao desenvolvimento do paciente. Para o sucesso do processo analítico, o que pesa mais que as interpretações das manifestações transferenciais, são as experiências reais entre o analista e o paciente. Sobre a importância dos aspectos femininos e masculinos puros na origem da constituição do psiquismo. Freud (1923), em seu texto Psicanálise e Teoria da Libido, nos diz que a satisfação do instinto parcial oral, tem por objeto o seio materno. Nesta fase ilusões de experiências de onipotência estão presentes, até que as percepções de um EU e um NÃO EU, comecem a se formar. Nesta fase, o bebê começa a lidar com o sentimento humano da ansiedade. Para Winnicott, o papel da mãe suficientemente boa é propiciar holding, e através dos elementos puramente femininos, deixar-se usar pelo bebê e apresentar objetos, de maneira não intrusiva, que podem propiciar o brincar no espaço potencial, e a consequente segurança para SER e ESTAR, ou seja, continuar sendo no espaço-tempo.

Através de seus elementos masculinos, a mãe e o ambiente suficientemente bons, permitem ao bebê SER e FAZER por si próprio, aprendendo a se relacionar com o meio. Falhas no uso de elementos femininos pela mãe, levam o bebê a perder a capacidade de SER ou EXISTIR. Já as falhas no uso de elementos masculinos, levam o bebê a perder a capacidade de ser relacionar com o mundo, ou atuar nele. É através dos elementos femininos que a mãe propicia o recriar no espaço potencial, o brincar.


Por Margarida Maria Vicchietti

 
 
 

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